Contado em duas vozes - uma delas a de alguém que acaba de morrer - "Fazes-me Falta" entrecruza o olhar de duas gerações.............
“……Não basta morrer para conhecer o sorriso de Deus - mesmo que, como foi o meu caso, tenha vivido abismada nele uma vida inteira. Quando o pior acontecia, aquele sorriso descia às minhas trevas com um soluço de baloiço, um gingar de gonzos arrancado às cordas da infância. Eu sentava-me nele e subia, balouçando até à luz. O pior aconteceu-me cedo, tive sorte. Deus procura primeiro os que sofrem antes do conhecimento específico da dor, talvez porque os outros sabem demasiado para poderem ser salvos. Tu dizias que era o contrário: que Deus nasce da ignorância própria dos sofrimentos prematuros. Mas tu, meu aluno dilecto, cedo te deixaste povoar pelo excesso do saber. Deus não sabia nada do Universo quando o criou. Imagino que se sentiria só. Imagino que num momento impreciso dessa solidão se terá tornado maior do que Ele próprio, estourando numa gigantesca flor de luz. E imagino-O, depois, tentando dar um sentido particular a cada uma das pétalas dessa luz dispersa. Agora que saí do corpo que fui (...) imagino-o melhor ainda, ébrio de luz, lúcido, encandeado por um Lúcifer oculto e criador incrustado no seu próprio ser, em estado de paixão com a história desencadeada pela sua omnipotente solidão. E balouço no Seu sorriso outra vez, a vez definitiva porque o meu corpo está lá em baixo, num caixão, contemplado e lembrado e chorado pela última vez. Não me levantarei da cama amanhã depois de Lhe pedir em surdina que dê um impulso maior ao balouço, que o empurre com força até que os pés me voem para fora do calor aterrado dos lençóis. Ninguém vai estar à minha espera, não terei de me disfarçar de desculpas, não voltarei a iludir ou desiludir ninguém. Não voltarei a morrer no corpo do único homem que me abriu no corpo a passagem secreta para a morte. Não voltarei à desilusão do renascimento. Sobretudo não voltarei a desiludir-te a ti, o descrente que me ensinou a crer melhor, o meu pequeno e velho Deus de algibeira, o meu amigo. Despojada de corpo é-me mais fácil transformar-me no próprio balouço, na luz dançante de que ele é feito. Num murmúrio de vento peço-lhe que não me empurre tão depressa para esse lugar iluminado que é a Sua Carne, peço-lhe que me deixe matar saudades desse mundo que deixei tão repente. Matar saudades de Ti. Ou matar-me, como fazem as crianças, para recomeçar uma outra história, no balouço quotidiano do teu sorriso……”
“……Estou sozinho. Sozinho com o coração em bocados espalhados pelas tuas imagens. Já não posso oferecer-te o meu coração numa salva de prata. Alguma vez o quis? Alguma vez o quiseste? Dava-me agora jeito um deus qualquer para moço de recados. Um Deus que te afagasse os cabelos e me fizesse recordar como eram macios. Um deus que me libertasse desta imagem fixa do teu corpo encaixotado. Logo tu, que tantas vezes te rias daquilo a que chamavas o meu “encaixotamento Compulsivo…”
3 comentários:
Buongiorno Marcelito !
Ca fait plaisir de voir de la nouveauté sur le blog :-)
Malheureusement, c'est un article dont j'ai du mal à comprendre... beaucoup de mal :-(
Y compris la phrase du jour. C'est frustrant, mais au moins à lire, le portugais, c'est comme une musique :-D
J'espère que tu pourras m'expliquer un peu car ça me paraît un passage intéressant et très fort. Ce qui ne m'étonne plus de toi.
Je t'embrasse
Rosita
Este livro deve merecer uma intensa concentraçao da tua parte! Espero k consigas chegar ao fim com uma conclusao positiva ;) Pelo k percebi trata-se de alguém k perdeu a pessoa amada, e só confrontado com a morte desta se apercebe do qto ela lhe faz falta. Infelizmente, mtas vezes na vida, só qdo perdemos algo nos apercebemos do quao valioso era o k possuíamos...
Bjinhos
Também notei k a pessoa morta tenta comunicar com a k ficou, através das lembranças; podes só contar-me em k circunstancias se deu esta separacao?
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